|
Lançamento: dia 23 de fevereiro, às 15h, no Paço do Frevo |
Moema Luna, da assessoria de imprensa da Cepe Editora, me enviou algumas perguntas para preparar o release sobre meu último livro para o selo Frevo, Memória Viva:
Jota Michiles - Recife, manhã de sol. Como só uma parte das falas será aproveitada, disponibilizo o diálogo completo aqui, pra vocês.
1. Jota Michiles começou a compor na infância. Pode-se dizer que a história do carnavalesco se confunde com a do frevo?
No caso de Michiles, mesmo com a vitória no concurso Uma Canção para o Recife, em 1966, a relação dele com o frevo estreitou-se nos anos 1980, a partir dos sucessos emplacados por Alceu Valença - em especial com o primeiro desses sucessos,
Bom demais, em 1985 - e das participações bem-sucedidas no Frevança, ao longo daquela década. Assim, é mais exato dizer que a história de Michiles se confunde com a do frevo-canção em especial, desde então - com contribuições especiais no universo no frevo de bloco.
2. Você conhecia a história de Jota Michiles? Qual fato da vida do compositor mais lhe impressionou?
Não conhecia. Não conhecia a de nenhum dos compositores que retratei na série Frevo, Memória Viva, da Cepe Editora, o que foi muito benéfico pra mim, no sentido de atiçar minha curiosidade jornalística e ir atrás de abordar fatos pouco ou nunca abordados sobre eles na imprensa e nos releases disponíveis na internet, além do esforço para costurar a história deles com a do frevo. No caso de Getúlio Cavalcanti e Jota Michiles, li as autobiografias de ambos e, de propósito, quase nada citei delas, justo para o leitor tenha a curiosidade de ir até essas fontes e vá além do que escrevi. Por sinal, as duas autobiografias estão esgotadas (o sebista que atentar a isso pode cobrar uma boa grana se conseguir exemplares delas).
Da vida de Michiles, não escolho um fato, mas um relato: o da filha Michelle. Dediquei um capítulo inteiro à fala que ela concedeu pro livro, editando ou intercalando poucas observações minhas, tamanho foi o impacto dela. Por algumas vezes, tive de exercer um autocontrole enorme, ao longo da conversa, para não chorar, tamanha a carga afetiva do relato. E fiquei repensando muitas coisas da minha vida, ao ir pra casa. Isso se somou ao fato de eu estar andando de moto pela primeira vez, naquele mesmo dia, e me dando conta do quanto estamos vulneráveis neste plano de existência, brigando por coisas poucas.
3. Como foi o relacionamento com o artista durante as entrevistas?
Michiles foi o mais receptivo e responsivo dos meus entrevistados. Até pelo WhatsApp pude passar a limpo muitas informações e acrescentar apontamentos, ao longo da redação do livro. Descobri também que ele tem uma série de narrativas já preparadas para falar em público e então precisei driblá-las para desdobrar aspectos que não estavam em primeiro plano nessas narrativas - e para explorar outros aspectos, que não estavam explícitos. Fora isso, Michiles tem uma prosa eletrizante, em pessoa. Ele cantou, durante as entrevistas, os jingles que compôs para campanhas políticas nos anos 1990. Saí com todos eles na cabeça, feito chiclete.
4. Carlos, como você mesmo disse sua expertise como crítico musical está nos clássicos, não é? No entanto, você se debruçou sobre o perfil de cinco carnavalescos. O que lhe credenciou para o trabalho, o elemento Carnaval ou o frevo? De que forma?
O elemento
música, em sua acepção mais ampla e poética: a arte dos sons. Vou explanar de forma mais empírica. Como sempre me debrucei sobre a música clássica feita por compositores brasileiros, é impossível que ela seja estudada, principalmente do final do século 19 pra cá, dissociada de sua relação com a música popular, que lhe serve até hoje de fonte fecunda. Inclusive, na última edição da Continente Documento, em fevereiro de 2007, escrevi um artigo sobre frevos sinfônicos, isto é, frevos escritos - por compositores de música clássica - para orquestras sinfônicas. Depois, ao traçar o perfil do primeiro compositor para Cepe Editora, Clóvis Pereira - quem melhor transitou entre os dois universos -, pude ir abordando os demais compositores, de forma a falar cada vez menos da faceta erudita e cada vez mais da frevística. Os compositores de frevo de rua são, salvo pouquíssimas exceções, dotados de estudo musical (Ademir Araújo e Maestro Duda têm obras orquestrais e de câmara). Embora eu não seja músico, já estudei música e componho obras eruditas, e fiz dois cursos no Paço do Frevo, com Marcos FM, para aprender as especificidades da escrita para frevo de rua e frevo de bloco.