quarta-feira, 23 de abril de 2014

Hablando con nuestros hermanos - 3

[Post final da série]


El betacismo

Prometímosselo y abrazándonos y echándonos su bendición, el uno tomó el viaje de Salamanca, el otro de Sevilla, y yo el de Alicante, adonde tuve nuevas que había una nave ginovesa que cargaba allí lana para Génova.

No espanhol de Castela, o fonema representado pela letra vê havia perdido a distinção em relação a seu fonema oposto, o da letra bê. Assim, aquela letra passou a ser preservada por questões etimológicas (da mesma maneira que mantivemos, em algumas línguas neolatinas, o agá antes de vogais), mas acabou sendo mantido em outras regiões da Espanha e restaurado em determinadas colônias no continente americano.

O betacismo (nome desse fenômeno de supressão do fonema vê em favor do bê – que na verdade aplica-se a qualquer indistinção ou troca entre os dois fonemas) e o lleísmo estão entre as peculiaridades fonéticas mais traiçoeiras para iniciantes na língua espanhola. Ouvir a palavra valle pela boca de um argentino e de un paraguaio em uma mesma conversa (soando como “bache” ou “baje” e “baie” ou “vaie”, respectivamente) é um exemplo.


El futuro compuesto

–Sepamos agora, Sancho hermano, adónde va vuesa merced. ¿Va a buscar algún jumento que se le haya perdido? –No, por cierto. –Pues ¿qué va a buscar? –Voy a buscar, como quien no dice nada, a una princesa, y en ella al sol de la hermosura y a todo el cielo junto.

Aqui no Brasil, é comum usarmos o futuro composto em lugar do futuro simples: “Vou trabalhar amanhã”, em vez de “Trabalharei amanhã”. O mesmo se dá na língua espanhola, porém é preciso observar que nela se exige preposição obrigatória entre os dois verbos (“voy A trabajar“), causando estranheza ao ouvinte nativo a sua omissão. O mesmo se aplica no uso do pretérito imperfeito do verbo ir: “Eu ia trabalhar” vira “Yo iba a trabajar“.


O futuro do subjuntivo

…sin gobierno salistes del vientre de vuestra madre, sin gobierno habéis vivido hasta ahora, y sin gobierno os iréis, o os llevarán, a la sepultura cuando Dios fuere servido

O futuro do subjuntivo é utilizado constantemente na língua portuguesa. Justo por isso, ele é causador de certa agonia quando aprendemos espanhol, onde – apesar de continuar existindo – ficou relegado à norma culta arcaica e foi substituído pelo presente do subjuntivo no uso cotidiano.

Dessa forma, se falamos “Quando eu for”, “Quando tu escreveres”, “Assim que ele tiver”, temos de nos acostumar a dizer em espanhol “Quando eu vá”, “Quando tu escrevas”, “Assim que ele tenha”, pra expressar ideias futuras (“Cuando yo vaya”, “Cuando tu escribas”, “Apenas él tenga”).

[Todas as citações dos posts desta série são do Dom Quixote de Cervantes]

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