quinta-feira, 10 de abril de 2014

Hablando con nuestros hermanos - 1

[Post originalmente publicado em 2011, no Blog da Revista Continente]

Depois de duas sextas-feiras ausente (em viagens a Petrolina, apurando reportagens para as próximas edições da Continente, e a Buenos Aires, para um congresso acadêmico de musicologia), volto a postar aqui no blog – desta vez, não para falar de música clássica, mas da língua espanhola. Por sinal, nos próximos meses vocês vão me ler em outras seções da revista: vou dar um tempo em Sonoras e partir para Pernambucanas, Viagem, Cardápio, Leitura…

O que me instigou a escrever este post foram os constantes episódios que tenho testemunhado em conversas entre brasileiros e hispanofalantes nos últimos dois anos, quando passei a viajar para outros países latinoamericanos e, numa dessas saídas, aproveitei para fazer um intercâmbio no intuito de finalmente aprender o idioma cervantino.

Além da alta velocidade de fala dos interlocutores, os estudantes brasileiros sentem uma dificuldade recorrente quanto à pronúncia nativa de outros habitantes que não sejam do país onde ele se encontra (ou do qual eles tenham estudado).

Não vou-me ater aos já batidos casos de falsos cognatos, como embarazada (grávida), oficina (escritório), sello (carimbo) ou saco (sacola/paletó), nem às diferenças vocabulares entre nações e regiões, mas a padrões de pronúncia e construção frasal que a própria gramática hispânica reconhece e classifica, fornecendo macetes naturais para o aprendizado dos estrangeiros.

É. Confesso que estou numa vibe Dad Squarisi.


Tuteo x voseo

“–Y yo ni más ni menos –dijo la ventera–; porque nunca tengo buen rato en mi casa sino aquel que vos estáis escuchando leer; que estáis tan embobado, que no os acordáis de reñir por entonces”.

Apreciamos muito o uso do na língua espanhola, porém quem já foi à Argentina, ao Paraguai e/ou ao Uruguai pôde perceber que se usa majoritariamente o pronome vos (você), que ficou relegado a círculos restritos em regiões da Espanha e de outros países da América Latina, como o Chile, a Colômbia e a Costa Rica.

Aprendemos aqui no Brasil que “você” se traduz como usted, só que não propriamente: usted é um pronome de tratamento para pessoas com quem não temos proximidade e pode equivaler a “você” ou a “senhor(a)”.

O bom do voseo é a sua conjugação regularíssima: basta substituir o erre do infinitivo por esse e acentuar a vogal temática. Assim, dizemos [vos] hablás/comés/oís para os verbos hablar, comer e oír, por exemplo.
E outra: a conjugação do vos só existe, salvo casos raros e específicos, para o presente do indicativo, para o presente do subjuntivo (que vos enviés)* e para o imperativo. (Por sinal, o imperativo só existe na forma positiva em espanhol. O imperativo negativo é feito com o presente do indicativo: dessa forma, se diz espera tú e esperá vos, mas no esperes tú e no esperés vos.)

Nos demais tempos, usa-se o vos com a conjugação do : vos/tú cantarías, cantarás etc.
As poucas exceções na conjugação do vos ficam por conta dos verbos ser (vos sos, pres. indic., e sé tú/vos, imper.), ir (tu/vos vas, pres. indic., e andá vos, imper.) e ver (onde coincide com a conjugação do sempre).

Não estranhe também se você encontrar alguém que mescle o  com a conjugação do vos: tú hablás - um equivalente do nosso coloquial “tu vai”, aqui do Nordeste. Já no tempos de Cervantes, vos era empregado como vosotros (vós) e era conjugado segundo este (vide citação acima).

***

Essa conjugação do vos no subjuntivo é informal e somente soa bem com verbos da primeira conjugação (ar). Não é reconhecida pela Real Academia Espanhol.

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