Hoje postei no Facebook uma foto que tirei de um trecho do livro O Recife - uma bibliografia, de Lúcia Gaspar e Virgínia Barbosa, para comentar como o pernambucano - desde sempre ou, pelo menos, desde 1946 - tem a tendência de superestimar tudo o que é de nossa terra (ou seja, quando não dizemos que algo é o maior do Brasil ou do mundo, dizemos que é o melhor).
No caso, no artigo de jornal mencionado no número 2150 da foto, a palavra "talvez" confere uma inusitada modéstia à informação, talvez pela dificuldade de apuração da afirmação naqueles tempos pré-internet. Ah, mas a nossa autoestima já impedia uma postura mais comedida (risos).
Aconteceu que o maestro Marlos Nobre viu o post e explicou porque a Discoteca Pública foi realmente a melhor do Brasil em sua época. Era uma história que ele já havia me contado, mas que eu não sabia (ou não havia prestado atenção) que era devida à experiência na DP. Fica abaixo o registro.
"Caro Carlos Eduardo, aqui vai um testemunho: graças à Discoteca Pública Municipal eu, que me tornei frequentador diário dela, pude ouvir (às vezes com a partitura da biblioteca da discoteca) gravações de Stravinsky (O pássaro de fogo, Petrouchka, A sagração...), Ravel, Debussy, Hindemith, Copland, Berg, Schoenberg... e isso diariamente.
"Aos sábados no pequeno auditório havia audições comentadas por críticos como o Valdemar de Oliveira, por exemplo. E ouvi lá todas sinfonias de Beethoven, toda a obra de Chopin, Schumann, Brahms, Bach, Mozart, é claro que tudo em bolachas e, por exemplo, as sinfonias em [em uma série de] diversos discos. Mas era o que existia de melhor na época.
"Isso foi a base de minha formação, de ouvir obras em gravações de grande porte, pois a OSR na época não tocava esse repertório (estávamos em 1954). Portanto foi, sim, coisa de primeiro mundo, e digo mais: era sim a melhor discoteca pública do Brasil, não conheci nada parecido quando vim em 1961 em São Paulo e no Rio.
"Uma das coisas mais tristes e incompreensíveis para mim foi o total desaparecimento desta Discoteca Pública. Aquele acervo era uma preciosidade, pois além dos discos tinha partituras, inúmeras revistas de música vindas da Europa, livros e mais livros sobre música e artes. Tudo isso, que eu devorava em minha juventude, foi parar onde? No lixo? Na casa de alguém? Eis uma interrogação valida. Será que tudo foi para o Museu da Imagem e do Som? Como desaparece um acervo tão rico, importante e vital, assim do nada? Pesquisar e ver para onde foi, seria possível e valeria a pena? Hoje deve estar tudo infelizmente perdido."
No caso, no artigo de jornal mencionado no número 2150 da foto, a palavra "talvez" confere uma inusitada modéstia à informação, talvez pela dificuldade de apuração da afirmação naqueles tempos pré-internet. Ah, mas a nossa autoestima já impedia uma postura mais comedida (risos).
Aconteceu que o maestro Marlos Nobre viu o post e explicou porque a Discoteca Pública foi realmente a melhor do Brasil em sua época. Era uma história que ele já havia me contado, mas que eu não sabia (ou não havia prestado atenção) que era devida à experiência na DP. Fica abaixo o registro.
"Caro Carlos Eduardo, aqui vai um testemunho: graças à Discoteca Pública Municipal eu, que me tornei frequentador diário dela, pude ouvir (às vezes com a partitura da biblioteca da discoteca) gravações de Stravinsky (O pássaro de fogo, Petrouchka, A sagração...), Ravel, Debussy, Hindemith, Copland, Berg, Schoenberg... e isso diariamente.
"Aos sábados no pequeno auditório havia audições comentadas por críticos como o Valdemar de Oliveira, por exemplo. E ouvi lá todas sinfonias de Beethoven, toda a obra de Chopin, Schumann, Brahms, Bach, Mozart, é claro que tudo em bolachas e, por exemplo, as sinfonias em [em uma série de] diversos discos. Mas era o que existia de melhor na época.
"Isso foi a base de minha formação, de ouvir obras em gravações de grande porte, pois a OSR na época não tocava esse repertório (estávamos em 1954). Portanto foi, sim, coisa de primeiro mundo, e digo mais: era sim a melhor discoteca pública do Brasil, não conheci nada parecido quando vim em 1961 em São Paulo e no Rio.
"Uma das coisas mais tristes e incompreensíveis para mim foi o total desaparecimento desta Discoteca Pública. Aquele acervo era uma preciosidade, pois além dos discos tinha partituras, inúmeras revistas de música vindas da Europa, livros e mais livros sobre música e artes. Tudo isso, que eu devorava em minha juventude, foi parar onde? No lixo? Na casa de alguém? Eis uma interrogação valida. Será que tudo foi para o Museu da Imagem e do Som? Como desaparece um acervo tão rico, importante e vital, assim do nada? Pesquisar e ver para onde foi, seria possível e valeria a pena? Hoje deve estar tudo infelizmente perdido."
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