terça-feira, 23 de março de 2021

Svetlana Alexiévitch: uma escritora que merece ser lida

Foto: Reuters / Reprodução

Há cerca de três semanas comecei a leitura de A guerra não tem nome de mulher.

Desde que Svetlana Alexiévitch ganhou o Nobel de Literatura, em 2015, fiquei com vontade de conhecer sua obra.

Não haveria de ter sido à toa que uma jornalista, uma escritora de não-ficção, recebesse um prêmio desde Winston Churchill, em 1953 – este, por seus memoráveis discursos.

E compreendi por que foi merecido.

Sua narrativa é uma junção de dezenas de depoimentos dispostos tematicamente, não sob tópicos estabelecidos de forma racional, senão afetivos.

A autora pouquíssimo intervém ou se expressa – mesmo nas páginas iniciais, onde ela marca mais presença. E, quando o faz, nunca julga ou opina: apenas narra, reflete, evoca diálogos e lembranças.

O resto é uma sucessão de depoimentos cortantes e doloridos, alguns mais esperançosos e emotivos. A narrativa está presente como um negativo de filme: não precisamos acompanhar a voz da autora o tempo todo.

Ela está em silêncio, mas sempre ali, ao longo das páginas, como uma documentarista cinematográfica que vai escolhendo os takes e definindo a ordem e a duração deles, sentada e trancada em uma ilha de edição por intermináveis semanas.

Como as linguagens do cinedocumentário nos são familiares, não nos causa nenhuma estranheza essa voz literária de Svetlana.

Pelo contrário, só ajuda a ouvir as testemunhas/personagens com um maior grau de afinidade – nada comparável, claro, ao da entrevistadora.

Ora os depoimentos ocupam diversas páginas, ora alguns parágrafos; a grande maioria, individuais, com algumas personagens tendo seus nomes usados, aparentemente sem critérios, como títulos de subcapítulos; uns poucos, numa roda de conversa, sem identificação precisa das participantes.

Um mapa do recorte da vida que escolhemos destrinchar, em suma.

Até mesmo, no presente texto, abdiquei do meu estilo mais coeso e denso de escrever, a fim de fazer fluir mais rapidamente as minhas impressões.

Vou tê-lo concluído em cerca de uma hora (sim, sou muito lento e, como acontece com a maior parcela das pessoas, o pensamento sai mais veloz do que a digitação, e sem disciplina).

Nunca tive interesse por livros de guerra, muito menos da II Guerra Mundial, mas fui feliz em meu primeiro contato comprometido com o tema ter sido com um livro tão fora da caixa e humano.

E pra quem quer conhecer como é o pensar da própria Svetlana, seguem quatro indicações selecionadas de leitura e escuta, colocadas de forma gradual: 

  1. Um resumo de sua trajetória e de seus livros (cinco dos seis que ela escreveu*, estão traduzidos para o português).
  2. Um perfil, publicado no jornal El País.
  3. Uma entrevista escrita, em que ela detalha sua ótica de mundo e suas motivações.
  4. E sua inesquecível participação no Flip 2016, onde os brasileiros tivemos a oportunidade única de ouvi-la de perto.

* Na entrevista do terceiro link, ela cita cinco livros, mas há um não editado em língua portuguesa. Não sei o porquê da omissão ao sexto. Por sinal, é essa citação que quero deixar como epígrafe final, pois resume sua missão literária e jornalística:

Escrevi cinco livros, mas na verdade, a vida inteira tenho escrito um único livro: uma enciclopédia do “homem vermelho”, da “utopia vermelha”, dessa vida que chamávamos de socialismo.

Conheça mais sobre os grandes nomes do frevo: http://editora.cepe.com.br/autor/carlos-eduardo-amaral

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