Foto: Google Imagens. |
O músico e pesquisador descreve seu projeto, historiando a epopeia vivida por ele para a conservação de um material raro e precioso por ele descoberto:
"Logo após o golpe militar de março de 1964, os militares fecharam a UNE (União Nacional dos Estudantes). O edifício histórico da Praia do Flamengo 132, no Rio de Janeiro, foi fechado. Em 1967, o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico (CNCO), que tinha sido fundado por Villa-Lobos em 1942, foi transferido para o antigo edifício da UNE. No mesmo ano fui nomeado professor do IVL. No IVL eu encontrei importante material: sete fitas magnéticas de papel em carretéis de ferro e uma bobina de fio de aço, com gravações sonoras da época de Villa-Lobos (1940-1950).
"Num domingo eu estava com um aluno, no IVL, trabalhando no estúdio, quando os grandes portões do prédio começaram a balançar ruidosamente. Milhares de estudantes, em passeata, queriam invadir o prédio. Eu e o estudante imediatamente resolvemos pular o muro dos fundos, carregando o que de mais valioso havia no estúdio: gravações históricas e preciosas, fitas magnéticas de papel e uma bobina de fio magnético de aço.
"Seis meses depois, em dezembro de 1968, foi promulgado o AI-5 e eu fui demitido do IVL. Anos mais tarde a ditadura militar invadiu o prédio da UNE, destruindo acervos e bens do IVL. Em 1980 o prédio foi implodido e derrubado. São as oito raras gravações sonoras que, agora, vou recuperar e digitalizar, graças ao prêmio que me é concedido pela ARSC (Association for Recorded Sound Collections): as fitas de papel contêm gravações de palestras de Villa-Lobos, seus discursos para receber visitantes, e ensaios do coro dirigido pelo compositor.
"O rolo de fio de aço contém duas obras desaparecidas de Villa-Lobos: Fantasia (1909) e Mazurka (1901). A identificação do conteúdo dessas gravações é possível, pela observação das anotações feitas a lápis nos respectivos estojos."
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