segunda-feira, 7 de abril de 2014

Pegue sua caixa de rojões

Profa. Sophia Costa. Foto: Facebook.

Uma coleção intocada de embalagens à disposição e a curiosidade inata a um acadêmico foram os fatores que motivaram a professora Sophia Costa a dedicar sua dissertação de mestrado ao estudo das imagens de pacotes de fogos de artifício, que resultou no livro Fogos de artifício: Imagens, mitos e símbolos, lançado pela editora Edgard Blucher e à venda pela internet.

Tendo tido a oportunidade de folhear o livro, conversei com Sophia, que leciona no curso de Design no campus da UFPE em Caruaru, para que ela explicasse como surgiu a ideia da dissertação, que ganhou prêmio da própria universidade, e qual a abordagem que ela utilizou nos estudos. Quem quiser saber mais sobre o livro, é só postar um comentário.



CEA Sophia, como se deu a ideia da pesquisa?
SOPHIA COSTA A ideia da pesquisa se deu durante o curso [a graduação] de Design, quanto tive contato com o acervo de embalagens de fogos da Fundaj. Na verdade, a coleção tinha acabado de ser doada, e ninguém tinha mexido nela ainda. Sob orientação, fiz a monografia fazendo uma análise das imagens. O trabalho ganhou o prêmio Gastão de Holanda, do Departamento de Design da UFPE. Os professores sugeriram seguir a pesquisa em Antropologia, onde já havia uma professora de design estudando em sua pós, e me integrei ao Núcleo do Imaginário, onde se pesquisa sobre cultura, mitologia, psicologia etc. A orientadora da pesquisa do livro foi a Profa. Danielle Perin Rocha Pita, a fundadora do primeiro Núcleo de Estudos do Imaginário no Brasil, na UFPE. E foi a maior divulgadora dos Estudos do Imaginário pelo país.

Acervo FUNDAJ
Como foi o desenvolvimento dos estudos?
O desenvolvimento da pesquisa se deu novamente em analisar as imagens do acervo da Fundaj, mas dessa vez com um recorte: apenas imagens das décadas de 1950 a 2000. A ideia era fazer uma comparação de imagens, saber se elas refletiam o imaginário e a cultura de cada época, o que se manteve até hoje e no que mudou. Toda fundamentação é nas mitologias sobre o fogo e nos estudos da cultura. A técnica de análise foi a Mitocrítica, de Gilbert Durand. (Quando falo cultura, foco principalmente nas festas juninas brasileiras, que foram outro recorte, visto que o uso dos fogos é muito amplo, desde jogos de futebol a comícios políticos.)

Foto: Sophia Costa

Quais as imagens mais recorrentes entre as embalagens que serviram de amostra à pesquisa?
Estrelas, cenários noturnos... Na maior parte, elementos ligados ao céu, ao alto. Nas embalagens atuais, tem coisas como extraterrestres, foguetes etc. É sempre uma tentativa de religação com algo do alto (isso pode ser entendido como divindade, mesmo que seja um E.T.). Em todas as mitologias que estudei, não há nenhuma que ligue as divindades criadoras ao que está "abaixo". Sempre, sempre se ligam ao alto, seja indígena, africana etc. É a questão do inconsciente coletivo de que fala Jung. Essas imagens arquetípicas, inexplicavelmente, fazem essa associação.

Foto: Sophia Costa
Qual teu foco de pesquisa atual?
Atualmente, eu mais alguns colegas professores do curso de Design em Caruaru fundamos o GEIA (Grupo de Estudos Interdisciplinar do Imaginário no Agreste). As pesquisas estão paradas no momento, pois a coordenadora do grupo assumiu a coordenação do curso, e meu foco de trabalho e estudos tem sido na área de Design Editorial (desenvolvimento de livros, revistas, jornais) no qual tenho orientado projetos de conclusão de curso que seguem essa linha.

Acervo FUNDAJ

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