quinta-feira, 17 de abril de 2014

Hablando con nuestros hermanos - 2

[Post originalmente publicado no Blog da Revista Continente]

Yeísmo x lleísmo

¿A qué llamas apear, o a qué dormir? dijo Don Quijote. ¿Soy yo por ventura de aquellos caballeros que toman reposo en los peligros?

Lleísmo é como se denomina a presença do fonema original castelhano para o duplo ele, igual ao nosso ele agá. Já o yeísmo é a ausência dele, sendo substituído pelo fonema da letra ípsilon (nosso i intervocálico). Se em português, censuramos quem fala “trabaiá” em vez de “trabalhar”, no espanhol esse fenômeno tornou-se admissível ao longo do tempo e já é majoritário entre os nativos do idioma.

E aqui, subsequentemente, é necessário o brasileiro se acostumar às várias pronúncias do ípsilon na língua espanhola – saber no papel é uma coisa, durante a conversa é outra: a informação perde-se se não captada na velocidade do diálogo. A palavra payazo (palhaço), p. ex., pode nos soar como: “padjasso” (Caracas), “paiasso” (México/Chile) e “pajasso”/”pachasso” (Rio da Prata).

Para nós, lusofalantes, trata-se de fonemas distintos, mas a prática nos faz perceber que, em espanhol, estamos diante de um caso de alofonia (subvariações de um único fonema) – tal qual numa palavra como escola, a qual compreendemos mesmo que se diga “iscola”, “echcola” ou “ichcola”.

Já em países como Peru, Bolívia e Paraguai, a coexistência com idiomas indígenas (aimará, quéchua e guarani, respectivamente) tornou necessária a diferenciação entre o fonema original do duplo ele e o do ípsilon (e também da distinção entre os fonemas bê e vê – vide tópico Betacismo). Numa simples conversa via bate-papo, pode-se notar como os falantes yeístas mais jovens do idioma confundem grafias, como: valla em vez de vaya, ou cabayo por caballo.


Seseo, ceceo y distinción

Salió, en esto, don Quijote, armado de todos sus pertrechos, con el yelmo, aunque abollado, de Mambrino en la cabeza, embrazado de su rodela y arrimado a su tronco o lanzón.

Vocês já notaram que nos filmes de Almodóvar é frequente a aparição do som do tê-agá inglês nos diálogos entre os personagens? É que nas regiões centrais da Espanha existe uma distinção entre o fonema da letra esse, igual ao nosso, e o das letras cê e zê, que soam como o citado tê-agá britânico.

Nas demais regiões espanholas e em todas as suas ex-colônias, a distinção (tida como uma incômoda marca metropolita) se perdeu em favor da generalização do fonema da letra esse (fenômeno chamado de seseo). Já nas regiões rurais do sul da Espanha ocorreu o oposto: o fonema do tê-agá englobou indistintamente as letras esse, zê e cê, causando-nos a impressão de que todos têm língua presa (o ceceo).


Queísmo x dequeísmo

Contóles asimismo casi todas las aventuras que Sancho había contado, de que no poco se admiraron y rieron, por parecerles lo que a todos parecía…

Nos queixamos da má aplicação da regência de certos verbos quando usamos um pronome relativo, especialmente no caso do verbo gostar: sempre ouvimos, p. ex., “essa é a revista que gosto” em lugar de “essa é a revista de que gosto”, já que quem gosta, gosta DE alguma coisa. Na língua espanhola, a ausência da preposição “de”, em casos como esse, passou a ser tolerada e é comum no espanhol rioplatense. Não há o que se acrescentar nesse ponto, basta prestar atenção a ele.

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